11 de março de 2009

Formiga quando quer fazer festa cria asas.


Ipanema é um dos bairros mais lindos da orla do lago Guaíba. Foi lá que me criei, mais sereia do que menina... O mundo terrestre era muito pouco para mim; o aquático sempre foi mais interessante e na praia acontecia de tudo! Um dia, quando tinha uns 14 anos, estava pescando e só fisgava mandim, fiquei indignada e resolvi voltar para casa mais cedo. Quando estava arrumando o caniço na bicicleta, veio um menino alto, muito magro, e, só pelo modo de andar, vi que ele não era dali. Ele tinha um jingado, um balanço que chamava atenção. O menino já não era tão menino, era um rapaz, um paulista que havia se mudado a pouco para “minha praia”... Cândido seu nome. Calmamente, pediu para pescar um pouquinho. Assim, teve inicio a nossa amizade. Ele foi com certeza o "guru" da minha adolescência; estudava na escola da Marinha (meu pai era ex-marinheiro).
O meu novo amigo viajava pelo mundão e trazia LPs de vinil que não existiam aqui. Na minha casa, se ouvia música o tempo todo: acordávamos aos domingos ouvindo Carmina Burana com a participação especial de meu pai que tocava bongô, imagina a loucura... Certo domingo, o Cândido, que havia se transformado em meu irmão, tamanha amizade que nos ligava, entrou lá em casa com uma pilha enorme de discos novinhos, abriu a portinha da eletrola de perninhas palito e enfiou o vinil lá dentro. Aumentou o som e aí foi à loucura total... Inferno na Torre. Ela, a magnífica... Janis Joplin! Todo mundo levou um susto; o anarquismo tomou conta do meu coração... foi ali que entendi o que uma mulher podia fazer com sua vida. Meu pai, como todo comunista, odiava música de Americanos, mas depois de umas caipirinhas e uma costela gorda deu um arroto e exclamou: "A guria é do balaco baco... não é negra mas canta como crioula". O LP era CHEAP THILLS e minha mãe ameaçou chamar a policia caso aquela música de loucos continuasse tocando. Foi o primeiro domingo de muitos e a turma foi ficando cada vez maior. Novos discos foram chegando: The Rolling Stones, o Led Zeppelin... ganhei de aniversário e minha casa foi se tornando a discoteca de amigos e desconhecidos – Gávea, 200. Minha mãe começou a fazer minhas malas e a dizer que "esta menina é uma desajustada" desde aí. Bom, à gurizada ficou louca quando veio ele, o mais de todos - "Black Sabbath". Aí então, dona ÁUREA fez um chá para minhas tias e comunicou que me internaria na manhã seguinte. Fugi de casa e fui no meu debu de rebeldia... CARLOS SANTANA, show no Olímpico. Ouvindo aquela banda senti que não poderia mais ser a mesma pessoa; briguei com os “porco” da policia montada, uma verdadeira batalha campal. O Cândido se colocou na frente e apanhou por mim; me senti a princesa sendo socorrida pelo príncipe encantado... Voltei para casa, fiquei de castigo por alguns dias sem poder encontrar com meu guru. Somos amigos até hoje. O que está fazendo falta mesmo é uma boa pescaria, uma roda de fogo de chão e muito Rock and Rool na veia para espantar o mofo e acordar minha mãe lá no céu, que DEUS a tenha. Ela deve estar tomando chá com minhas tias e dizendo: "Essa menina não mudou nada, será que nem agora que vai ser avó a coisa muda?"
Beijo, mãe do coração! Essa minha neta, a Ana Clara, é pura luz que vai iluminar todos desta família de Roqueiros e te prometo que nós iremos ouvir e dançar muitos rock's juntas... Ahahaahaha... Te amo, mamy. - UCA

2 comentários :

  1. Oi Eliane.
    ÊPA! Ipanema é igualmente meu rincão natal. Morei durante um certo tempo - quando era um menininho rechonchudinho e lindinho - na rua Mário de Andrade e depois, já delinquente juvenil, na Capão da Canoa, um pouco acima da rua da Gávea. Se eu não houvesse exterminado uma quantidade considerável de neurônios no decorrer da existência, certamente lembraria de você. Impossível que não tenhamos nos visto. Talvez nossas gangues fossem rivais...
    Também adoro este disco da Janis (é aquele com desenhos do Crumb na capa, né?), mas não fugi de casa. Além de não querer abrir mão do bem bom, era pecado, segundo o Padre Antonio.
    Outra coincidência, minha sobrinha-neta também se chama Ana Clara.
    Estranho, tudo muito estranho... Querem os deuses me enlouquecer definitivamente?
    Seja como for, te linkei lá na Toca.
    Um beijo.

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  2. Tudo confere, Eliane.
    Pô, onde você estava nos meus verdes anos? No mínimo, teríamos sido bons amigos...

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