21 de fevereiro de 2011

A felicidade anda em baixa no mundo - Planeta Urgente - Planeta Sustentável

Para que serve a economia, afinal?

"O número de americanos que dizem sim, estou muito feliz com minha vida, atingiu seu pico em 1956, e não para de cair desde então", diz o ambientalista Bill McKibben, que fala no documentário perturbador, mas otimista, A Economia da Felicidade (veja o trailer no final deste post). Enquanto os PIBs mundiais cresceram, nossa felicidade não (mas vimos muitos aumentos, como no tamanho de nossos lixões, em nosso peso e no débito de nossos cartões de crédito).

Nossa economia global é eficiente em várias coisas - como mover bens através de grandes distâncias, por exemplo, ou transformar empréstimos imobiliários em lucros. Mas não é nada bom em determinar se estas atividades valem a pena, quanto se trata de melhorar as vidas das pessoas que vivem e trabalham em nossa economia (sem falar na preservação dos sistemas naturais do qual toda a economia depende). Em muitos casos, as políticas econômicas que aumentam o comércio e a produção na verdade diminuem o bem-estar de milhões, ou mesmo bilhões de pessoas, comenta o Yes Magazine.

Esta é a realidade que está levando mais pessoas (e, cada vez, mais, governos, do Butão à Bolívia, da Grã-Bretanha à França ) a fazer uma pergunta simples: para que serve a economia, afinal? As regras e políticas que criamos para governar o fluxo de dinheiro e bens existem para criar ainda mais dinheiro e bens, ou para melhorarem nossas vidas? E se decidirmos que gostaríamos de priorizar nossas vidas, como reescrever as regras?

A Economia da Felicidade levanta estas questões em seis continentes, examinando os meios como nossas decisões econômicas promovem, ou diminuem a felicidade humana. O Yes Magazine entrevistou a diretora do documentário, Helena Norberg-Hodge, fundadora da Sociedade Internacional para Ecologia e Cultura. Eis alguns trechos de suas respostas:

"Trinta e cinco anos atrás, tive o privilégio de viver e trabalhar em Ladakh, ou o Pequeno Tibete. As pessoas lá pareciam as mais felizes que eu já tinha visto. Para mim, aquilo parecia vir de uma auto-estima tão grande que era quase como se o eu não fosse uma questão. Mesmo entre os jovens, não havia necessidade de se exibir, de ser "bacana". Lembro de ter ficado impressionada com um menino de treze anos, que não se envergonhava de ninar um bebê, ou de andar de mão dada com sua mãe.

"Mas, com a chegada do estilo ocidental, chegou a mensagem que as pessoas lá eram primitivas e atrasadas. Elas foram subitamente comparadas a modelos romantizados e glamurizados nas imagens da mídia, de perfeição e riqueza, com as quais ninguém pode competir. Começamos a ver pessoas usando substâncias químicas perigosas para clarear suas peles. Em Ladakh, há hoje um suicídio por mês, geralmente de jovens. Não há muito tempo, isto era basicamente desconhecido. Isto é um indicador realmente claro de que algo está muito errado, e o que mudou foi o modelo econômico dominante.

"Em países em todo o mundo, na verdade, há uma epidemia de depressão e suicídios e distúrbios alimentares. Com este filme, estamos tentando mostrar que, olhando o quadro todo, vemos que estes problemas sociais, assim como os ambientais, estão ligados a um sistema econômico que promove um consumismo sem limites. E são fundamentais para este sistema as políticas comerciais que promovem a expansão de gigantescas corporações multinacionais.

"É importante que entendamos que o crescimento - aquilo que atualmente medimos e promovemos - está destruindo modos de vida rurais e comunidades rurais. O resultado final pode ser visto nos países industrializados, onde algo como 2% das populações ainda estão no campo. Isto levou à morte e destruição de centenas de milhares, provavelmente milhões de cidades pequenas e vilarejos.

"Precisamos de um equilíbrio entre urbano e rural - precisamos da diversidade, da capacidade de as pessoas escolherem. Hoje em dia, graças ao que nossas políticas econômicas promovem, é difícil que pequenos agricultores consigam respeito e uma vida decente. Muitos migram para as cidades porque não têm escolha, e não porque lá exista uma vida superior. Cerca de 60 milhões de pessoas vivem em Beijing, se contarmos as cidades-satélites. Isto é um absoluto desastre social, e ambiental.

"Olhando esta tendência de um ponto de vista global, parece claro que precisamos urgentemente fazermos o que pudermos, para apoiar a vida rural e a sobrevivência da agricultura saudável. Em alguns lugares, este movimento está começando a acontecer. Há um movimento de jovens agricultores, muito inspirador. Existem economias de alimentos locais crescendo em torno de cidades como São Francisco e Seattle, agricultores que estão ganhando, e que são respeitados. Seu trabalho é de pequena escala, diversificado, agradável - eles não são parte de uma máquina, ou uma monocultura.

"Há uma ligação estrutural entre economias localizadas e a diversificação na terra. E isto por sua vez leva a pequenas fazendas de maior produtividade, que na verdade produzem mais alimento por hectare de terra. Elas também fornecem mais emprego, em vez de depender de grandes máquinas e de uma imensidão de combustíveis fósseis.

"Tenho falado com alguns jornalistas que perguntam: Bom, como você sabe o que é felicidade? Quem é você para dizer o que constitui felicidade? É verdade que existem muitas definições, mas no que estou mais interessada é no abundante material de pesquisa, que diz que pessoas em todo mundo, mais que tudo, precisam se sentir amadas, apreciadas, vistas e ouvidas - especialmente em seus períodos de crescimento. Precisam ser alimentadas para poderem alimentar. A economia da felicidade, localizada, trata de recobrar a conexão e o cuidado humanos. Além da pesquisa, pense em nossas tradições espirituais. Virtualmente todas elas têm uma mensagem clara de que o amor é o caminho para a paz e a felicidade".

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